Mito da MPB, João Gilberto está perto de comemorar 80 anos O Correio conversou com amigos, artistas, especialistas e herdeiros de seu charme que marcou gerações
Felipe Moraes
Luiz Prisco
Idolatrado há décadas, o baiano de Juazeiro, de vida carioca, completa 80 anos no próximo dia 10 |
Não dá para dizer. Lobão, que sempre diz o que pensa, e, às vezes, escorrega nas palavras, soltou o verbo durante a semana. No Festival da Mantiqueira, em São Francisco Xavier (SP), o roqueiro ousou discutir o indiscutível — criticou Chico Buarque e João. “O problema é que ele virou um ser sagrado. Nós temos que destronar tudo o que é sagrado”, disse, durante o evento literário. João não rebateu, é claro. Não precisa. Sua contribuição para a música é inegável.
Ruy Castro, autor da biografia Chega de saudade — 27 reimpressões em 20 anos desde a publicação —, não tem dúvidas. “Neste exato momento, em qualquer parte do mundo, há alguém se beneficiando do seu jeito de tocar violão, e é isso o dia todo, o ano todo, a vida toda, desde 1958”, define. Aquele ano foi o prelúdio do primeiro LP, Chega de saudade (1959), com arranjos de Tom Jobim, um dos discos essenciais da bossa nova.
O cantor e compositor Sérgio Ricardo ficou amigo de João mais ou menos naquela época. Ele não se lembra de datas exatas, mas recorda-se bem de como o conheceu. “Eu trabalhava como pianista em boate, e ele me foi apresentado pelo (João) Donato. Ele trabalhava num grupo vocal e estava à procura de saber como se posicionar dentro da música popular. Tocava um violão maravilhoso. Conversávamos até altas horas da madrugada. Éramos muito amigos. Ali pelas tantas, de repente, ele me convenceu a tocar violão. Cantava de uma forma que na época nem se pensava em cantar”, conta.
Os encontros entre Sérgio e João têm sido raros. “Basta que uma vez por ano a gente se encontre. Coisa de grandes amigos”, explica. Mas as lembranças dão conta de eliminar a distância. “Recebi um convite para participar de umas reuniões na casa da Nara Leão. Estava começando a nascer uma nova forma musical, e o líder era o João Gilberto. Mas o João nem aparecia muito por lá. Comecei a frequentar, e iam Carlos Lira, Menescal, Bôscoli, aquele pessoal todo. Mas o João era o ídolo da história, o líder de uma transação nova”, comenta
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