segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

MURIÇOCAS DE JUAZEIRO DA BAHIA ATACA BURGUESIA

ESPAÇO DO LEITOR: “NO REINO DAS MURIÇOCAS”

As últimas gerações vêm convivendo com a presença incômoda destes insetos, que nos tiram o direito sagrado ao sono reparador, dificultam o bate-papo em família, a leitura, o acesso à internet e outras atividades de lazer ou de trabalho. O tempo prolongado de convivência com essas espécies, que nos atormentam, faz-me lembrar de outro fenômeno: a convivência com a seca do semiárido nordestino, onde estamos localizados.
Já não se usa mais o termo combate à seca, tendo se chegado à conclusão de que o fenômeno natural não é algo a ser combatido, pois invencível. Fala-se em convivência com o semiárido, através de vários mecanismos de ordem técnica, educacional, de planejamento e investimentos governamentais, para o enfrentamento das longas estiagens. As muriçocas estão se tornando eternas em Juazeiro, estão incorporadas de forma permanente ao nosso cotidiano, fazem parte das nossas vidas. Outro dia ouví duas senhoras conversando: _ mulher, na sua casa não tem muriçoca? , ao que a outra respondeu: muriçoca, não, lá em casa tem muito é SBP e baygon.” As ditas espécies estão se tornando cada vez mais resistentes às ultimas gerações de repelentes e inseticidas, que trazem severos danos à  saúde. Pergunta-se: assim como em relação à seca e sua indústria de enriquecer os “coronéis” de ontem e os de hoje e de alimentar os carros-pipas, as muriçocas estão aí para serem combatidas, eliminadas, ou as mesmas estão reagindo a alguma desordem ambiental?

Não me atrevo a entrar nesse mérito, até para evitar falar bobagens ou o que não sei. Temos falado bastante em combater à cultura do improviso, que vem caracterizando Juazeiro ao longo de sua história. Temos falado em interagir com o conhecimento multi e interdisciplinar, em buscar em quem sabe o que não sabemos e que nos possa ser últil na melhoria de nossa qualidade de vida.
Temos falado que temos instalado no bi-pólo Juazeiro-Petrolina mais de cinquenta cursos universitários. Temos falado que a Universidade do Estado da Bahia-UNEB, Campus Juazeiro, através de um de seus mais qualificados e proeminentes pesquisadores, já se manifestou publicamente por diversas oportunidades sobre o ciclo de reprodução das muriçocas e como exercer um controle natural e sustentável sobre as mesmas. Lembro-me de que há vários anos atrás, no auge de uma crise insuportável de convivência com as muriçocas, de forma empírica e sem um estudo adequado e correto, usando óleo queimado, a população de Juazeiro mobilizou-se no combate ao inseto.
Vivemos um bom período de trégua, mas depois elas voltaram e se estabeleceram de forma absoluta e hoje somos súditos, para não dizer escravos, do  “Reino das Muriçocas”.  O que ficou de legado daquela campanha foi a união de toda a população em torno de um mesmo objetivo, foi o nosso raro momento de consenso e convergência de interesses. Finalizo, dizendo: nada tenho contra as muriçocas, desde que elas não nos incomodem tanto, vivam a vida delas e deixem que vivamos a nossa...!!!
Jaime Badeca Filho
Advogado, escritor e politico

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