quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Denunciam o recrudescimento do Terrorismo de Estado e a falta de garantias judiciais. Reivindicam a investigação sob o acompanhamento de organismos internacionais



Representantes de diversas organizações sociais e políticas apresentaram, na manhã de hoje, uma carta dirigida ao Procurador Geral do Estado, na qual exigem o esclarecimento do ocorrido dias antes em Kurusu de Hierro, município de Concepción, onde dois camponeses e uma terceira pessoa seriamente ferida resultaram de uma confusa operação militar.
Na dita carta, afirmam que verificaram a execução extrajudicial das pessoas falsamente acusadas de estarem vinculadas a supostas organizações guerrilheiras.
Tentativa de retorno aos sombrios anos do stronismo
“Repudiamos qualquer tentativa de retornar aos tempos de tirania militar fascista, aos sombrios anos da ditadura stronista, onde toda dissidência política era criminalizada e, então, perseguida, presa, exilada, torturada, assassinada e/ou desaparecida”, expressa a missiva apresentada, fazendo notar o clima de amedrontamento do qual seriam vítimas vários populares de diferentes zonas do país.
Terrorismo de Estado sob a justificativa de combate a grupos armados
Dias atrás, expoentes da igreja católica paraguaia já tinham denunciado que os fatos ocorridos no norte do país foram uma traiçoeira execução extrajudicial contra pessoas que não tinham nenhuma ligação com organização armada.
Sob a justificativa de presença de um grupo guerrilheiro, vários municípios do Paraguai se encontram em estado de militarização permanente desde que o Presidente Cartes obteve “superpoderes” no ano passado, para poder fazer uso das Forças Armadas sem necessidade decretar um estado de exceção.
“Na suposta busca do EPP em um território que não é muito grande, onde já deveriam ter resultados muito mais importantes, utilizam grandes recursos econômicos, passam pelo lugar e fazem muitas coisas. Fazem incursões noturnas, ultrajam pessoas. O modus operandi é bastante mercenário”, afirmou Najeeb Amado, Secretário Geral adjunto da Frente Guasu, nas mídias locais.
“Se nós não nos opusermos energicamente à guerra suja e ao terrorismo de estado; o estado de direito vai terminar sendo derrotado (...). Não queremos voltar aos tempos anteriores a 1989”, acrescentou Amado, em referência às práticas de violação dos direitos civis utilizadas durante a ditadura stronista.
Aumento das mortes impunes de camponeses paraguaios
O “Informe Chokokue”, recentemente apresentado por organismos de DDHH, documenta o aumento notável de assassinatos a camponeses que continuam impunes.
“Descobrimos que existe um plano sistemático de execuções no contexto da luta pela terra no Paraguai. Estas execuções respondem a um plano para impedir que as organizações camponesas tenham uma voz em demanda da reforma agrária”, explicou recentemente em uma entrevista aos meios de imprensa Hugo Valiente, membro da Coordenadoria de Direitos Humanos do Paraguai.
Reivindicação a comunidade internacional
Anibal Carrillo, outro dirigente da Frente Guasu, fez menção ao fato da falta de responsabilidade da investigação do Ministério Público neste caso, onde a promotoria local não se apresentou no lugar do confuso operativo por pedido das próprias autoridades militares.
“Se essa é a promotoria que temos, ela é incapaz de garantir direitos, de atuar na investigação correta dos fatos. Isso ocorre porque justamente o braço executor do terrorismo de estado, que este caso são as forças militares da zona de Kurusu de Hierro, a impede. Estamos realmente fora de um estado de direito. Estamos às portas e com uma tirania no Paraguai em desenvolvimento”, acrescentou o dirigente ao fundamentar o pedido de acompanhamento por parte de organismos internacionais à situação que se vive no país.
Entre as organizações firmam a dita carta, que veio acompanhada de um pronunciamento à opinião pública nacional e internacional, se encontram organizações camponesas, políticas e sindicais.
Áudios das declarações na íntegra:
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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