Estima-se que elas precisem de um espaço de 100 km2 por cada três indivíduos (um macho e duas fêmeas). Por isso, embora na Colômbia a maior parte da Amazônia esteja em territórios protegidos (como áreas indígenas e reservas naturais), estas terras de cuidado especial são insuficientes para garantir a preservação da espécie. “Devemos conservar 500 indivíduos juntos para que esta população sobreviva 300 anos”, indica Payán.
Corredor da onça nas Américas
“De acordo com os estudos genéticos que fizemos, percebemos que a onça é a mesma em diferentes regiões, pelo tamanho que lhe permite percorrer muitos lugares, então o fluxo genético tem sido contínuo. As espécies se separam quando existe uma barreira que não deixa que se reproduzam”, explica.
Payán indica que este corredor genético não vai contra o desenvolvimento humano e produtivo, não depende unicamente de parques nacionais e reservas privadas, mas do ato de não matar as onças, e da realização de certas práticas na agricultura, na pecuária e na gestão das áreas protegidas. “Por isso pode ser um corredor continental”, afirma.
Após estudar diferentes áreas, Payán está convencido de que a onça pode sim coexistir com o homem e de que nos territórios onde mora também podem viver comunidades indígenas que cacem sustentavelmente. Entre os riscos que enfrenta esta espécie está a exagerada deterioração do seu habitat e a caça excessiva de espécies que são seu alimento.
Estima-se que seu habitat foi diminuído em 40% desde o começo do século passado. Porém, ainda existem áreas importantes de florestas na Colômbia, onde persistem suas principais populações.
A Amazônia é o coração do corredor e da distribuição da onça, mas na Colômbia este felino é achado também em lugares como as selvas do Pacífico, no médio rio Magdalena, norte e no oriente da Antioquia. Nestas três últimas áreas, a população é considerada em estado crítico; ou seja, é possível que desapareça nos próximos cinco anos ou menos.
Densidade da onça no centro da bacia amazônica
“Se existem presas e boa cobertura na floresta, aí está a onça”, afirma Payán, que realizou o primeiro estudo de densidade do centro da bacia amazônica (parte que corresponde à Colômbia).
Os resultados da análise indicam que em lugares protegidos como o Parque Amacayacu (293.500 hectares a 65 quilômetros de Letícia, capital do departamento de Amazonas), a espécie está relativamente bem, já que a caça de presas é sustentável devido a uma baixa densidade humana. No momento da pesquisa (2006) havia 80 caçadores em 3 mil quilômetros quadrados. A caça também está limitada pela falta de infraestrutura.
Porém, fora do parque o animal sim enfrenta muitas ameaças. Na fronteira com o Brasil: a devastação de seu habitat pela mineração; em Putumayo, Caquetá, Guaviare e Meta: o avanço agropecuário; no limite com o Peru: a caça não sustentável de presas, e no norte da Amazônia: os cultivos de coca.
A onça na Amazônia brasileira
Segundo o pesquisador Emiliano Esterci, coordenador do Projeto Iauaretê, diferentemente da Colômbia, na Amazônia brasileira não são necessários os corredores porque a região é muito ampla e está muito conectada. “Nossas estimativas quanto ao número de onças, embora não sejam exatas porque não existam muitos dados, indicam que há mais de 10 mil animais em estado de reprodução. Esse não é o número total de indivíduos, mas sim os que estão aptos a se reproduzir. É uma boa cifra para garantir a conservação da espécie, mas o problema é que o habitat está se perdendo muito rápido”, afirma.
Acredita-se que, pelo andar da carruagem, nos próximos 40 anos cerca de 40% do habitat na Amazônia vão se perder. “Isso quer dizer que, embora a população hoje não esteja criticamente ameaçada na região, pode chegar a este ponto em pouco tempo”, conclui.
Além da importância histórica e cultural que tem para os indígenas por se relacionar com todos os mitos de criação, esta espécie é importante para a manutenção dos ecossistemas, pois sua presença ajuda a regular o incremento de suas presas, especialmente herbívoros e predadores médios. Isso, por sua vez, influi na composição das florestas, na dinâmica da sucessão vegetal, e na riqueza e abundância das populações de aves e pequenos vertebrados.
Fonte: O Eco.
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