segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Você sabia que pode esta usando um tecidos do polo de confecções pernambucano podem ser encontrados na Feira de Caruaru, no Agreste pernambucano, e em lojas de grife nos shoppings centers do país.

Problemas ambientais começaram antes de crise dos lençóis

Tecidos do polo de confecções pernambucano podem ser encontrados na Feira de Caruaru, no Agreste pernambucano, e em lojas de grife nos shoppings centers do país. Foto: Alexandre R. Costa
Em Pernambuco, a descoberta, no último dia 11 de outubro, da importação de contêineres com 46 toneladas de lençóis estampados com marcas de hospitais americanos colocou em alerta as autoridades da Receita Federal, Anvisa e até do FBI. Negociar resíduos hospitalares é crime, tanto nos EUA como no Brasil.

O problema é maior. A imagem de um centro comercial ficou prejudicada. Um polo de confecções que movimenta a economia de 18 municípios, emprega 150 mil pessoas em 22 mil empresas (80% microempresas, 15% de pequenos empreendedores e alguns médios e grandes negócios).

Governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em defesa dos empreendedores que participam da economia de 18 municípios e empregam 150 mil pessoas. Aluísio Moreira/SEI
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), vestiu a camisa dos empreendedores e defendeu a maioria. Disse que muitos não podem ser condenados pelo crime de um. As primeiras informações depois de iniciadas as investigações revelam que a prática da compra de tecido de hospitalares é antiga, rotineira e movimenta o comércio nacional.

Antes do crime dos lençóis se transformar em destaque nacional, na mesma região e no mesmo setor econômico ocorreram casos de sonegação fiscal, devastação de mata nativa, derrame de água sem tratamento em rio estadual e desrespeito à legislação trabalhista.

Em 2009, uma grande operação do Ibama em conjunto com a agência ambiental CPRH procurou coibir duas prática que estavam se tornando corriqueira entre as lavanderias industriais: retirar lenha nativa da caatinga para usar como matriz energética e despejar seus efluentes sem tratamento no Rio Capibaribe. Mais de 30 lavanderias foram fechadas pelos fiscais. As lavanderias são parte fundamental da produção de jeans e o município de Toritama responde pela produção de cerca de 15% do consumo nacional.

Um dos idealizadores da fiscalização pelo Ibama, o analista ambiental Leslie Tavares, conta que poucas empresas possuíam licença ambiental, muitas eram instaladas em meio urbano e a prática despejar os efluentes no rio era comum. “O Capibaribe ficava azul”, recorda o então chefe da fiscalização do Ibama.

O Capibaribe já foi poluído pelas lavanderias de Toritama. O rio corta 42 municípios pernambucanos antes de chegar ao seu estuário, no Recife. Foto: Márcio Cabral de Moura
O Ministério Público do Trabalho também resolveu entrar em ação, depois de denúncias de jornadas de trabalho excessivas e uso de mão de obra infantil. A primeira ação na Justiça do Trabalho foi contra o importador dos resíduos hospitalares dos EUA, a empresa Na Intimidade. A procuradora Ana Carolina Ribemboim questionou as condições de insalubridade, falta de equipamentos de proteção individual e contratação de adolescente. E também moveu ação contra o dano geral provocado pela importação de lixo hospitalar. “Houve a ocorrência de dano a toda coletividade”, explicou Ribemboim.

O presidente do Sindicato dos Comerciários de Caruaru, Milton Manoel da Silva, entrou no grupo dos críticos, depois de registrar a fuga dos clientes. Disse que existia “um bando de empresários e políticos” que procuravam abafar a máfia do lixo hospitalar. Segundo ele, há mais de uma década empresários importam tecidos de hospitais. “Isso não é coisa de um empresário só nem só de agora. É de mais de dez anos”, acusou Milton da Silva, que detalhou a causa. “Isso acontece porque falta fiscalização”.

O empresário Bruno Bezerra, que se tornou porta-voz do comitê da crise montado no polo de confecções, tenta defender o setor e argumenta que os problemas gerados pela importação de resíduos têm o seu lado útil ao dar mais apoio às autoridades. Conta que uma nova legislação vai impedir que tecidos possam ser comercializados com marcas de outras empresas ou instituições e uma campanha publicitária vai procurar esclarecer.

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