quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Fauna: ONG familiar dá abrigo a onças pintadas

Cristina segura Pajé. Seu nascimento foi filmado. (Crédito: Divulgação)

ONG familiar dá abrigo a onças pintadas

Onças pintadas descansam em recinto da NEX, em Corumbá de Goiás. (Crédito: Karina Miotto)
Gavião foi resgatado de uma fazenda do Mato Grosso. O animal, uma onça pintada, era visto como propriedade por um veterinário caçador (pasme) que arrancou suas garras e o manteve preso a um cabo de aço de 20 metros por mais de uma década na entrada de sua fazenda. O feito rendeu ao bicho cicatrizes ao redor de toda a região do pescoço. Hoje, Gavião tem uma vida diferente. Depois de 11 anos de tortura passou a viver em Corumbá de Goiás, há cerca de uma hora de Brasília, em uma fazenda da NEX – No Extinction, uma ONG cuja missão é, conforme se lê em seu site oficial, “a preservação e defesa dos felídeos da fauna silvestre do Brasil em processo de extinção”.  
 
Onça-pintada

Animal solitário e maior felino do continente americano. No Brasil, já quase não se veem onças nas regiões nordeste, sudeste e sul. Sua extensão de ocorrência é estimada em 8,75 milhões de km², a maior parte localizada na bacia amazônica.

Estes animais têm desaparecido principalmente devido à destruição de seus habitats e à caça predatória por conta de prejuízos causados à criação de animais domésticos. Muitas vezes são mantidos vivos em situações de tortura. Em 2008, a IUCN classificou a espécie como "quase ameaçada" de extinção.
Há 11 anos, quando não imaginava que teria um criadouro de felinos, Cristina Gianni, fundadora da NEX, foi fazer uma visita ao zoológico de Brasília. Notou que no chão havia uma jaula coberta com lona. Ficou sabendo que se tratava de Pacato, uma onça parda (também conhecida como puma ou suçuarana) encontrada pelo Ibama na Serra do Cachimbo, sul do Pará. Há quatro anos tudo o que ele fazia era se mover, de um lado para o outro, dentro de uma jaula de dois metros quadrados. Estava obeso e com hipertrofia dos membros posteriores. Ele não tinha para onde ir. “Foi quando pensei que havia lugar em minha fazenda”, conta. Com autorização do Ibama, levantou o primeiro recinto.

Hoje já são 12 criadouros e o número de felinos atendidos chega a 20. Todos são os chamados animais-problema que, como Pacato ou Gavião, foram encontrados em péssimas condições: a onça parda Xuxo era criada como cachorro e tomava banho de shampoo; Ferinha perdeu a mãe em uma queimada no Pará, mesmo Estado onde Xingu viveu aprisionado por anos; Brutus também teve a mãe morta e só não morreu porque foi encontrado por uma família ribeirinha e alimentado com o leite de uma mulher que havia tido um bebê. Com o tempo, a falta de uma vitamina fez com que perdesse totalmente a visão.

“Pouca gente conhece a situação dos animais-problema. Existe muito preconceito com criadouros, mas estar aqui, para estes felinos, deve ser chegar à liberdade tamanho o horror que viviam”, afirma a diretora da organização.  Ela conta, por exemplo, que Gavião chegou à NEX com medo de gente. "O ex-dono impunha a mão fechada sobre ele e o animal abaixava a cabeça. Deve ter apanhado muito para ser dominado desse jeito", diz.

Paixão pela causa

A NEX não tem receita mensal, conta com quatro funcionários e quatro voluntários fixos. Cada recinto custa em média 50 mil reais para ser levantado. Por mês, são gastos pelo menos R$ 10 mil para manutenção do local e das onças. Os recursos vêm de poucos doadores, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e saem, principalmente, da renda pessoal de Cristina e seu marido, Silvano Gianni, pois o apoio financeiro que recebem é insuficiente. Em busca de doações, recentemente Cristina postou em seu blog que, a pedido do Ibama, deve adequar a cozinha para “estocagem e preparação do alimento das onças”.

Muitos não compreendem porque o casal gasta tanto por mês com isso. Silvano diz que esta é sua maneira de retribuir tudo o que recebe do planeta, enquanto Cristina conta que não se conforma em ver “onça sendo morta e torturada simplesmente por ser onça”. Uma boa explicação para esta frase de Cristina vem de Silvio Marchini, colunista de ((o)) eco. De acordo com ele, onças são geralmente abatidas porque provocam muitos sentimentos ao mesmo tempo (como o medo) e comem gado de algum produtor rural que, provavelmente a exemplo do vizinho, sem pensar duas vezes também aperta o gatilho para evitar mais prejuízo. Silvio encabeçou um projeto chamado Conviver Gente e Onças, no qual entrou em salas de aula de Alta Floresta, no Mato Grosso, para ensinar filhos de produtores rurais que onça não é um bicho tão perigoso assim.

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