Gavião foi resgatado de uma fazenda do Mato Grosso. O animal, uma onça pintada, era visto como propriedade por um veterinário caçador (pasme) que arrancou suas garras e o manteve preso a um cabo de aço de 20 metros por mais de uma década na entrada de sua fazenda. O feito rendeu ao bicho cicatrizes ao redor de toda a região do pescoço. Hoje, Gavião tem uma vida diferente. Depois de 11 anos de tortura passou a viver em Corumbá de Goiás, há cerca de uma hora de Brasília, em uma fazenda da NEX – No Extinction, uma ONG cuja missão é, conforme se lê em seu site oficial, “a preservação e defesa dos felídeos da fauna silvestre do Brasil em processo de extinção”.
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Hoje já são 12 criadouros e o número de felinos atendidos chega a 20. Todos são os chamados animais-problema que, como Pacato ou Gavião, foram encontrados em péssimas condições: a onça parda Xuxo era criada como cachorro e tomava banho de shampoo; Ferinha perdeu a mãe em uma queimada no Pará, mesmo Estado onde Xingu viveu aprisionado por anos; Brutus também teve a mãe morta e só não morreu porque foi encontrado por uma família ribeirinha e alimentado com o leite de uma mulher que havia tido um bebê. Com o tempo, a falta de uma vitamina fez com que perdesse totalmente a visão.
“Pouca gente conhece a situação dos animais-problema. Existe muito preconceito com criadouros, mas estar aqui, para estes felinos, deve ser chegar à liberdade tamanho o horror que viviam”, afirma a diretora da organização. Ela conta, por exemplo, que Gavião chegou à NEX com medo de gente. "O ex-dono impunha a mão fechada sobre ele e o animal abaixava a cabeça. Deve ter apanhado muito para ser dominado desse jeito", diz.
Paixão pela causa
Muitos não compreendem porque o casal gasta tanto por mês com isso. Silvano diz que esta é sua maneira de retribuir tudo o que recebe do planeta, enquanto Cristina conta que não se conforma em ver “onça sendo morta e torturada simplesmente por ser onça”. Uma boa explicação para esta frase de Cristina vem de Silvio Marchini, colunista de ((o)) eco. De acordo com ele, onças são geralmente abatidas porque provocam muitos sentimentos ao mesmo tempo (como o medo) e comem gado de algum produtor rural que, provavelmente a exemplo do vizinho, sem pensar duas vezes também aperta o gatilho para evitar mais prejuízo. Silvio encabeçou um projeto chamado Conviver Gente e Onças, no qual entrou em salas de aula de Alta Floresta, no Mato Grosso, para ensinar filhos de produtores rurais que onça não é um bicho tão perigoso assim.
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