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"A revolucionária, até o último dia de
sua trágica existência, manteve-se firme perante o inimigo e solidária
com as companheiras"
Escrito por sua filha Anita Leocádia
Prestes, professora do Programa de Pós-graduação em História Comparada
da UFRJ e Presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.
Olga Benario Prestes nasceu em Munique
(Alemanha) a 12 de fevereiro de 1908. Aos quinze anos de idade,
sensibilizada pelos graves problemas sociais presentes na Alemanha dos
anos de 1920, Olga viria a aproximar-se da Juventude Comunista,
organização política em que passaria a militar ativamente. Aos 16 anos,
apaixonada pelo jovem dirigente comunista Otto Braum, Olga sai da casa
paterna e junto com o companheiro viaja para Berlim, onde ambos irão
desenvolver intensa atividade política no bairro operário de Neukölln.
Embora vivendo com nomes falsos, na clandestinidade, Olga e Otto acabam
sendo presos em outubro de 1926. Ainda que Olga tenha ficado detida
apenas dois meses, Otto permaneceu preso, acusado de “alta traição à
pátria”. Em abril de 1928, Olga, à frente de um grupo de jovens
comunistas, lidera assalto à prisão de Moabit para libertar Otto. A ação
foi coroada de êxito total, pois além de o prisioneiro ter escapado da
prisão de “segurança máxima”, Olga e seus camaradas conseguiram fugir
incólumes. A cabeça de Olga é posta a prêmio pelas autoridades alemãs.
Tarefa internacional
Por decisão do Partido Comunista, Olga e
Otto viajaram clandestinamente para Moscou, onde a jovem comunista de
apenas 20 anos se torna dirigente destacada da Internacional Comunista
da Juventude. No final de 1934, já separada de Otto, Olga recebe a
tarefa da Internacional Comunista de acompanhar Luiz Carlos Prestes em
sua viagem de volta ao Brasil, zelando pela sua segurança, uma vez que o
governo Vargas decretara sua prisão. Prestes e Olga partiram de Moscou
no final de dezembro de 1934, viajando com passaportes falsos, como
marido e mulher, apesar de estarem se conhecendo naqueles dias. Durante a
longa e acidentada viagem rumo ao Brasil, os dois se apaixonam,
tornando-se efetivamente marido e mulher.
Em março de 1935, Prestes é aclamado, no
Rio de Janeiro, presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora
(ANL), uma ampla frente única, cujo programa visava a luta contra o
imperialismo, o latifúndio e a ameaça fascista, que pairava sobre o
mundo e também sobre o Brasil. Prestes e Olga chegam ao Brasil em abril
desse ano, passando a viver clandestinamente na cidade do Rio de
Janeiro. O “Cavaleiro da Esperança” torna-se a principal liderança do
movimento antifascista no Brasil e, assessorado o tempo todo por Olga,
participa da preparação da insurreição armada contra o governo Vargas, a
qual deveria estabelecer no país um governo Popular Nacional
Revolucionário, representativo das forças sociais e políticas agrupadas
na ANL.
Repressão e prisão
Com o insucesso dos levantes de novembro
de 1935, desencadeia-se violenta repressão policial contra os
comunistas e seus aliados. Em 5 de março de 1936, Prestes e Olga são
presos no subúrbio carioca do Méier por ordem do famigerado capitão
Filinto Muller, então chefe de polícia do governo Vargas. A ordem
expedida aos agentes policiais era clara – a liquidação física de Luiz
Carlos Prestes. No momento da prisão, Olga salvou-lhe a vida,
interpondo-se entre ele e os policiais, impedindo o assassinato do líder
revolucionário. Uma vez localizados e presos, Prestes e Olga foram
violentamente separados. Ele, conduzido para o antigo quartel da Polícia
Especial, no morro de Santo Antônio, no centro do Rio. Olga, após uma
breve passagem pela Polícia Central, foi levada para a Casa de Detenção,
situada então à rua Frei Caneca, onde ficou detida junto às demais
companheiras que haviam participado do movimento da ANL.
Extradição
Prestes e Olga nunca mais se veriam. Em
setembro de 1936, Olga, grávida de sete meses, era extraditada para a
Alemanha hitlerista pelo governo de Getúlio Vargas. Junto com Elise
Ewert, outra comunista e internacionalista alemã que participara da luta
antifascista no Brasil, foi embarcada à força, na calada da noite, no
navio cargueiro alemão “La Coruña”, viajando ilegalmente, sem culpa
formada, sem julgamento nem defesa. O comandante do navio recebeu ordens
expressas de cônsul alemão no Brasil para dirigir-se direto a Hamburgo,
sem parar em nenhum outro porto estrangeiro, pois havia precedentes de
os portuários franceses e espanhóis resgatarem prisioneiros deportados
para a Alemanha, quando tais navios aportavam à Espanha ou à França.
Após longa e pesada travessia, as duas prisioneiras foram conduzidas
incomunicáveis para a prisão de mulheres de Barnimstrasse, em Berlim,
onde Olga deu à luz sua fi lha Anita Leocadia, em novembro de 1936.
Numa exígua cela dessa prisão, submetida
a regime de rigoroso isolamento, Olga conseguiu criar a fi lha até a
idade de 14 meses, graças à ajuda, em alimentos, roupas e dinheiro, que
recebeu da mãe e da irmã de Prestes. Ambas se encontravam em Paris
dirigindo a campanha internacional de solidariedade aos presos políticos
no Brasil. Com a deportação de Olga, a campanha se ampliara em defesa
da esposa de Prestes e de sua filha. Várias delegações estrangeiras
foram à Alemanha pressionar a Gestapo, obtendo afinal a entrega da
criança à avó paterna – Leocádia Prestes, mulher valente e decidida, a
quem o grande poeta chileno Pablo Neruda dedicou o poema Dura Elegia,
que se inicia com o verso : “Señora, hiciste grande, más grande, a
nuestra América...”
Assassinada numa câmara de gás
A campanha internacional, que atingiu
vários continentes, não conseguiu, contudo, a libertação de Olga. Logo
depois ela seria transferida para a prisão de Lichtenburg, situada a cem
quilômetros ao sul de Berlim. Um ano mais tarde, Olga era confinada no
campo de concentração de Ravensbruck, onde juntamente com milhares de
outras prisioneiras seria submetida a trabalhos forçados para a
indústria de guerra da Alemanha nazista. A situação de Olga seria
particularmente penosa, pois carregava consigo duas pechas consideradas
fatais – a de comunista e a de judia. Em abril de 1942, Olga era
transferida, numa leva de prisioneiras marcadas para morrer, para o
campo de concentração de Bernburg, onde seria assassinada numa câmara de
gás.
O exemplo
Olga, segundo os depoimentos de todos
que a conheceram e conviveram com ela, nunca vacilou diante das grandes
provações que teve que enfrentar. Até o último dia de sua trágica
existência, manteve-se firme perante o inimigo e solidária com as
companheiras. Ao despedir-se do marido e da fi lha, antes de ser levada
para a morte, escreveu: ”Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do
mundo”; “até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de
viver”.
A vida e a luta de uma revolucionária
como Olga, comunista e internacionalista, não foi em vão; seu heroísmo
serve de exemplo e de inspiração para os jovens de hoje.
07/02/2011
Anita Leocádia Prestes é professora do
Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e Presidente do
Instituto Luiz Carlos Prestes.
Artigo publicado originalmente na edição 414 do Brasil de Fato.

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