terça-feira, 8 de outubro de 2013

América Latina - Colômbia :As FARC escrevem sobre os delírios de Santos


Delegação de Paz das FARC-EP
Quarta-feira, 02 de outubro de 2013 03:52
Seu Grande Pacto Nacional Agropecuário e a Mesa de Havana jamais serão as garantias que sonha para suas políticas neoliberais.
Nós colombianos levamos décadas, para não dizer séculos, observando como os governantes oligárquicos representam no imaginário um país muito distinto ao que realmente é conhecido pelo povo. Com Juan Manuel Santos as coisas alcançam seu grau mais alto. A alucinação de que dão conta suas mais recentes intervenções públicas, permite acreditar que o povo deste país também está vendo a situação nacional com seus olhos de neoliberal confesso.
No passado, Santos desempenhou papeis estrelares enquanto gestor da economia, da política e da guerra. Desde os tempos de Gaviria e sua abertura econômica, passando pelos governos de Pastrana e Uribe, sua passagem pelo Congresso e por vários ministérios influenciou de modo direto a configuração de nossa complicada sociedade. Além disso, há muito tempo, seus antecedentes diretos se encarregaram de definir a sorte de nosso país.
Recentemente, confessou que seu avô acolhia em casa e apoiava o chefe guerrilheiro liberal das planícies Guadalupe Salcedo. Seu próprio primo-irmão, Francisco, também revelou que sua mãe e sua tia, a mamãe de Juan Manuel, recolhiam dinheiro para as guerrilhas da época. Ninguém ignora o papel das páginas editoriais de El Tiempo na tomada das decisões mais importantes dos sucessivos governos nacionais, assim como no febril atiçamento da guerra interna.
Assim, suas repetidas declarações soam a deslumbramento. Não percebe a verdade. Enquanto no Cauca, como ontem em Nariño, anteontem em Boyacá ou, antes, no Catatumbo, os soldados e o ESMAD reprimem com gases e fisicamente a ferro o povo mobilizado no protesto, enquanto a Promotoria os processa com montagens sujas, o Presidente gagueja que em seu governo o diálogo e as soluções acordadas têm a preeminência sobre a confrontação, a violência e o enfrentamento.
Atreve-se a recordar as promessas feitas em seu discurso de posse e as supostas ações empreendidas por seu governo a fim de cumpri-las. Como se não estivesse acontecendo ante seus olhos o maior protesto social vivido nos últimos tempos no país, originado precisamente na ausência de todas as coisas que ele prometeu quando chegou à Presidência. Como se fossem quatro anos e não uns quantos meses que restam de seu inútil primeiro mandato.
Por isso, nada mais ridículo que seu novo conto do vigário de Grande Pacto Nacional pelo Desenvolvimento Agropecuário e pelo Desenvolvimento Rural. De repente, o Presidente das locomotivas, que diz respeito ao Desenvolvimento Agropecuário e Rural, considera as marchas incessantes e afirma estar ciente de que suas políticas para o campo agravaram os problemas, não os solucionando. Assim, propõe um pacto com os prejudicados por essas políticas neoliberais a fim de que as validem.
Reunir, num mesmo cenário, banqueiros, investidores estrangeiros, empresários, latifundiários, especialistas em livre comercio e camponeses com a corda no pescoço para traçar a política agropecuária e rural mais conveniente ao país, seria apenas uma formalidade demagógica. Ainda se tivesse tempo para realizá-lo, é certo que a voz dos camponeses seria a menos escutada e atendida. Eles estão condenados a desaparecer nos planos da globalização capitalista.
As organizações camponeses, de negritude e de indígenas, envoltas na mais pura conversa, tinham apenas o direito a firmarem sua sentença de extinção. Está mais que provado, como constataram essas organizações nos distintos espaços de diálogos aceitos após a greve agrária, que o governo de Juan Manuel Santos tem já definido seu rumo neoliberal e que nada que possa afetá-lo tem o menor cabimento nos consensos que prega.
Se Santos quisesse deliberar livre e amplamente com os camponeses, o teria feito numa mesa nacional de diálogo com os diferentes setores na greve. Não o fez porque teme a luta unida das organizações camponesas e populares. Elas, em conjunto, possuem a potência para desmembrar todos seus planos. Sua negativa em estabelecer essa mesa se fundou no fato de que não iria duplicar na Colômbia o processo existente em Havana com as FARC-EP. Teme a sua identificação.
Não lhe soa que a voz do povo e da guerrilha se confundem. As FARC, assim como os manifestantes, devem limitar-se a firmar o que seu governo propõe, sua concepção neoliberal do campo, do conflito e do país em geral. Do rico leque de propostas da insurgência apenas merecem alguma atenção aquelas que possam ser funcionais ao intocável modelo econômico e político consagrado por seu governo. O demais não é visto de forma seria, nem realista, nem sequer sincera.
Quando fala de momento crucial nas conversações, de aproximação às decisões mais importantes, de limites materiais no tempo, confessa publicamente que existem diferenças abismais entre as partes. Diz ter vontade em chegar a acordos, por mais difíceis que possam parecer, porém, na realidade, aposta em que as FARC se renderão as suas imposições, que cederão sem remédio a sua vontade neoliberal. E joga todas suas cartas nesse cálculo.
Promove expectativas infundadas, difunde nos meios que o acordo final se encontra em andamento, esgrime a miragem do pós-conflito, dá por certo que daqui a dezembro ocorrerá a desmobilização, que aceitaremos seu marco jurídico e seu referendo. Não entende que da maneira como pretende aplacar e submeter a mobilização social sem afetar em nada a estrutura econômica e política do país, tampouco poderá chegar a algum acordo com a insurgência.
Nisso consiste sua alucinação. Em acreditar ser real o que apenas é seu sonho. Não só existe a Colômbia rural que ele descobriu de repente para contrapô-la à urbana, mas a Colômbia empobrecida, ferida, reprimida, desenganada e cada vez mais disposta a mudar a raiz das coisas. A que protesta e marcha, a que atira contra as tropas criminosas. A um ano de anunciadas conversações de paz, essa Colômbia se levanta, se organiza e se lança à luta.
E nada vai detê-la. Nem as lisonjas, nem as bravatas do Presidente. Nem suas urgências eleitorais. Nem seus tanques de guerra, nem suas forças repressivas, nem seus assassinos. Tratando-se da Mesa da Havana ou do que ocorra no país, não são os afãs de Santos que definirão o futuro. Inclusive, além do que possa acontecer nas urnas em março e em maio, o fator verdadeiramente determinante será a força da luta popular encorajada.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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