domingo, 31 de maio de 2015

Guatemala: Indígenas e camponeses exigem a renúncia do governo e propõem Assembleia Constituinte Popular

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Ollantay Itzamná/Resumen Latinoamericano/Rebelión, 22 de maio de 2015 – “O Estado colapsou. Todas as suas instituições mais importantes estão corrompidas. Assim não podemos viver. Necessitamos de uma nova casa para todos. Vamos construir uma nova Guatemala através de um processo constituinte popular plurinacional”, disse Telma Cabrera, indígena mam, Presidenta do Comitê de Desenvolvimento Campesino (CODECA), ante uma multidão de indignados mobilizados do campo à cidade exigindo a renúncia do Governo e a refundação do Estado.

Mariano Caal, jovem indígena q’echí, enquanto divide uma tortilha de milho, no Parque Central, nos diz: “Viemos com 200 pessoas de nosso Município San Luis, Petén. Saímos ontem às 8 da noite e chegamos hoje, às 4 da madrugada. Entre todos, incluindo aqueles que não vieram, tivemos que contribuir com Q. 125.00 por pessoa para o ônibus. E aqui estamos. Estamos felizes. É a primeira vez que sentimos aceitação na cidade e nas rádios, (…)”.
E efetivamente, essa outra Guatemala (que vive indignada e excluída há muito tempo), proveniente de 20 departamentos, irrompeu, em 20 de maio, na cidade capital, e por quatro colunas diferentes, ingressaram serpenteantes direto para o coração político da Guatemala, (Parque Central) sob a consigna de: “Fora políticos, empresários e militares corruptos. Viemos por um processo de Assembleia Constituinte Popular e Plurinacional”.
Essa multidão de “não cidadãos”, estigmatizados e criminalizados (como ladrões de energia elétrica) pelo governo atual, não portavam a bandeira nacional, nem cornetas. Ingressaram a pé, não em automóveis. Levavam mantas e instrumentos de som rústicos para gritar à cidade: “Capilatinos, acordem! Ou estão de acordo em continuar tendo governantes ladrões como Otto Pérez Molina?”, dizia outro maya quase analfabeto em sua intervenção.

Rostos curtidos pelo empobrecimento e pela exclusão, com olhos fixos na esperança de um novo amanhecer, por cerca de duas horas, ocuparam com seus corpos, estéticas e aromas diferentes, o histórico e “castiço” Parque Central da capital (lugar proibido para seus antepassados). De um palanque móvel improvisado e em diferentes idiomas, exigiram a renúncia do Governo de “Mão Dura” (agora, cambaleante por pestilentos atos de corrupção) e a criação de um novo Estado.
Enquanto isso, a multidão do campo e da cidade entoava enérgica em repúdio ao sistema político: “Não somos da direita, nem da esquerda neoliberal. Somos os de baixo e viemos por causa dos de cima”.
Eles foram acolhidos na cidade, mas o racismo é evidente
Em um contexto de crescente indignação citadina ante a putrefação do sistema político, a presença “desta multidão de anônimos indesejados” na capital caiu como chuva fresca para a nova primavera que se anuncia no país.

De fato, o ato mais sublime que nós, observadores externos, celebramos neste protesto indígena camponês foi o recebimento/apoio presencial de vizinhos e estudantes das universidades às e aos indignados ignorados. Um verdadeiro ato simbólico performático do “ajuste” urgente da indignação do campo e da cidade para dinamizar o novo que ainda está por nascer neste país de fugazes primaveras eternas.
Como não podia ser de outra maneira (em uma sociedade configurada pelo ranço do racismo), alguns meios de comunicação estigmatizaram esta mobilização/protesto indígena campesino como um ato “incômodo” que “complicaria” o cotidiano fluir da cidade.[1] Inclusive com imagens falsas anunciaram bloqueio nacional de estradas, que não ocorreu. [2]
O que indiscutivelmente confirma o racismo midiático é que nenhum meio de comunicação deu atenção à proposta indígena campesina nesta conjuntura de protesto e incerteza nacional. Eles/as gritaram suas propostas em voz alta. Inclusive o difundiram mediante um boletim impresso. Defenderam mudanças estruturais pontuais para o sistema político, econômico, jurídico, cultural, terra-água, etc.
Porém, Guatemala é ainda um país colonizado onde o que se diz é válido conforme quem o diz, não pela mensagem em si. A presença incômoda do indígena camponês é tolerada, porém prestar atenção em suas propostas (muito menos se defender mudanças estruturais), isso jamais. Isto seria ir contra o dogma oficial: Indígena não sujeito. É objeto da caridade. Não tem direitos. Somente obrigações.
Porém, depois de tudo, como bem resumiu outro dos oradores mayas, agora se sabe quem é quem: “Vocês sabem o que nos já sabíamos. Eles são os ladrões, os delinquentes, que agora se escondem. Quando nós defendemos direitos, somos acusados de ladrões, nos encarceram e nos matam”, concluiu o indígena indignado.
Notas:

[1] Veja. http://www.soy502.com/articulo/campesinos-anuncian-marcha-masiva-preven-bloqueos
[2] Veja. http://www.prensalibre.com/campesinos-piden-renuncia-tambien
Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/05/22/guatemala-indigenas-y-campesinos-exigen-la-renuncia-del-gobierno-y-proponen-asamblea-constituyente-popular/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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