domingo, 10 de maio de 2015

OPINIÃO: ADEUS PETROLINA, ADEUS JUAZEIRO

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Rio São Francisco e a Ponte Presidente Dutra que une Petrolina a Juazeiro
Rio São Francisco e a Ponte Presidente Dutra que une Petrolina a Juazeiro. Foto e Maurício André
Artigo de Enio Silva da Costa*
Recentemente o companheiro Roberto Malvezzi (Gogó) publicou um excelente artigo relatando a decadência econômica do rio São Francisco. O óbvio aconteceu, embora acredite que o pior ainda está porvir, porque a principal atividade econômica do vale, – é agricultura irrigada. Sem água não teremos mais o sentido de existência econômica que faz da região, em especial Petrolina, polo de desenvolvimento e de destaque internacional.
O poeta Wilson Duarte numa de suas belas poesias sobre o rio, conta angústia do velho Chico em não poder ver mais o mar, mas é o mar que estar angustiado pelo rio que não chega mais ao seu encontro. Diante da espera sem sucesso, o mar vem ao encontro do rio, causando um fenômeno doloroso para o velho Chico, – cunha salina, que avança rio adentro de forma assustadora.
Imaginar a morte do velho Chico é algo quase inimaginável, muitos tentam nem pensar na hipótese, tantos outros acham um absurdo e alguns poucos acreditam ser possível o rio desaparecer. Mas o que seria de Juazeiro e Petrolina sem o rio? Como seria a vida no Vale sem rio?
O Brasil entrou na onda neoliberal de desenvolver sem a preocupação com a sustentabilidade ambiental, nos últimos anos são vários os exemplos de grandes empreendimentos, tendo aqui na região o delirante projeto de transposição das águas do Velho Chico, pano de fundo para esconder os mais nocivos projetos de transposição das águas, que são as adutoras.
Desde a construção da Barragem de Paulo Afonso, na década de 50 o rio vem sofrendo um processo inexorável do fim. Depois de Sobradinho teve a construção das barragens de Três Marias, Itaparica, Sobradinho e Xingó, ainda está em andamento a construção das barragens de Pedra Branca, Pão de açúcar e Riacho Seco. Depois da barragens vieram os grandes projetos de irrigação Nilo Coelho e Mandacaru, consequentemente as indústrias e o aumento da densidade populacional.
Mas o que será de Petrolina e Juazeiro sem o rio? Petrolina sentirá muito mais do que Juazeiro com a morte do rio. Até porque é também a que mais provoca destruição do mesmo com a sua ganância em crescer. Petrolina tem grandes volumes de investimentos, é onde se concentra os grandes empreendimentos imobiliários, as principais indústrias estão em Petrolina, o maior polo médico, os melhores cursos da UNIVASF, o maior centro gastronômico e de outros comércios. É também aonde mora os mais ricos (também onde se escode bem a pobreza). Petrolina é destaque no cenário internacional como o melhor lugar para se investir e morar. Resultado: quem chega na região procura Petrolina para morar. Consequência: grande percentual da população de Petrolina é composto de pessoas que não nasceram na cidade.
Quando o rio perder sua capacidade de fornecer vida para o agronegócio, Petrolina voltará ser a pequena Passagem para Juazeiro, devido ao seu grande percentual de habitantes não-nativos, muitos sacudirão o pó dos pés e deixarão Petrolina para trás, com eles irão também os grandes investimentos. Devido à grande exploração das monoculturas suas terras permanecerão improdutivas, os grandes projetos tornarão campos sem vida.
Os imponentes prédios residenciais na orla serão refúgio para usuários de drogas, o que aumentará consideravelmente a violência e os roubos. Os grandes condôminos residenciais serão habitados pelos moradores dos bairros periféricos, que voltarão a residi nas margens do filete que sobrará do rio.
Ao contrário de Petrolina, Juazeiro voltará ser a principal cidade do Vale, o principal entreposto comercial. Voltará a ser chamada de “Joazeiro”. Sem grandes volumes de investimentos, com densidade populacional proporcional, com grande parte da população de nativos, sem grandes investimentos imobiliários; com parque industrial pequeno. Juazeiro, voltará a ser a cidade provinciana de um século atrás. O comércio não terá mais como referência o rio, se dará nos arredores da cidade (provavelmente aonde é o mercado do produtor), tendo o escambo como referência das atividades econômicas de subsistência. Sem Agrovale, mas com imensidão de terra sem vida, Juazeiro terá como atividade econômica a agricultura familiar de subsistência nas terras onde Agrovale não chegou.
Teremos aumento nos índices de violência, roubos e assaltos; famílias se reversarão no poder político e econômico, haverá aumento e retorno de doenças já erradicadas, como é o caso da doença de chagas. No casos da benditas muriçocas poderá haver uma redução, mas que não será grande para o povo não esquecê-las.
Assim, Petrolina que já foi chamada de “a Califórnia brasileira” (cidade americana símbolo de sucesso) se transformará numa Detroid (cidade americana símbolo de fracasso), e Juazeiro que nunca se esforçou para ser grande, perderá de vez o sonho de se tornar igual a Petrolina.  E o rio seguirá com o seu filete exíguo para atormentar a memória dos que sobreviverão para ver o fim do velho Chico.
*Enio Silva da Costa é Pedagogo, Sargento Bombeiro e Mestre em Educação

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