O que faz um homem – que tem a genialidade de enriquecer à velocidade meteórica (o ministro teve o patrimônio aumentado em 20 vezes entre 2006 e 2010) e conseguir o patrimônio de R$ 20 milhões em apenas quatro anos – tremer tanto diante das câmeras, enquanto tenta explicar como se tornou o Tio Patinhas brasileiro em tão pouco tempo?
Durante a entrevista exclusiva concedida à Rede Globo, o ministro Antônio Palloci, 19 dias depois que o jornal Folha de São Paulo lançou ao ventilador as suspeitas sobre o enriquecimento veloz de um dos mais influentes homens do governo Dilma, expôs poucas coisas que a população brasileira não sabia. Restringiu-se a fazê-lo, resguardando-se ao direito da conveniência.
“Minha empresa jamais atuou com consultoria a órgãos ligados ao setor público”
“Trabalhei em consultoria de indústrias, de empresas de investimento e de serviços em geral”
“Não tenho direito de expor os nomes das empresas para as quais eu tabalhei”
“Adquiri experiência como Ministro da Fazendo e isso me deu condições de trabalhar em consultorias”
Essas são algumas frases proferidas por um visivelmente trêmulo ministro. Nem o copo que estava sobre a mesa conseguia manter-se parado. Parecia estar acontecendo um abalo sísmico durante a entrevista.
Mas o efeito terremoto para o governo pode vir mesmo da emblemática frase de quem tem algo a esconder:
“Os detalhes dos contratos firmados entre minha empresa de consultoria e companhias privadas não são de interesse público”.
Questionado sobre a proibição prevista em lei de agentes públicos, como ministros de Estado, atuarem como consultores na iniciativa privada, Palocci respondeu:
“Não estou acima da lei”.
Sem revelar detalhes, disse que seus clientes eram de segmentos da indústria, de serviços financeiros (bancos e fundos de mercados capitais) e empresas de serviços em geral. “Meus clientes pouco têm a ver com obras públicas, são empresas que vivem da iniciativa privada”, disse.
O ministro adimitiu que, em 2010, a empresa recebeu aproximadamente R$ 20 milhões com contratos de consultoria. Metade do valor foi recebido nos dois últimos meses do ano. A explicação, segundo o ministro da Casa Civil, é por conta do encerramento dos trabalhos da empresa após sua entrada no governo de Dilma Rousseff. “Contratos que previam o pagamento ao longo do tempo, por força de minha entrada no governo, foram encerrados”, disse.
Sobre suposta crise que teria causado no governo Dilma toda essa história em torno de seu enriquecimento, Palocci afirmou ”Há uma questão com relação à minha pessoa, não há crise no país, não há crise no governo”.
Perguntado se havia colocado seu cargo à diposição da presidenta Dilma Rousseff, o titular da Casa Civil disse que “todos os cargos estão sempre à diposição de Dilma”.
Ao final,questionado sobre como pode provar se é inocente ou não, Palocci apelou para a sensibilidade e a compaixão dos brasileiros:
“Não há coisa mais difícil do que provar que não fez. Não fiz tráfico de influência, tem que existir boa fé nas pessoas"