Marco Aurélio de Mello é o Sir de um peso e duas medidas
Por Davis Sena Filho
Marco Aurélio de Mello, o juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) é Sir, ou seja, aquele que tem domínio sobre algo ou alguém. E. sabe disso. Comporta-se como um senhor de vassalos e sua postura, inclusive a corporal, tenta imitar um lorde inglês daqueles de filme antigo. Seu tom de voz e estilo de falar são rebuscados, como se tivesse saído do tempo barroco e aportado nos dias de hoje.
O juiz conservador é um dos filhos diletos da Casa Grande e gosta do poder. Demonstra seu orgulho por intermédio da vaidade. Talvez seja um dos homens da República que mais zelam pelos valores e princípios nobiliárquicos, pois, como já afirmei, Marco Aurélio de Mello é Sir, além de ter um nome de imperador e filósofo romano, que, ao contrário do juiz, sabia que na vida tudo é passageiro até para os poderosos, e proferiu: “Logo tu esquecerás; logo te esquecerão!”.
Marco Aurélio, o imperador, não era apenas um homem culto, mas, sobretudo, sábio. Assumiu o trono de Roma no ano de 161 depois de Jesus Cristo, e é considerado um dos melhores governantes que o Império Romano teve. Por sua vez, o Marco Aurélio juiz não se faz de rogado para fazer política, e, consequentemente, participa da oposição aos governantes trabalhistas que assumiram o poder há 11 anos.
O juiz do STF e presidente do TSE é um primor de contradições e antagonismos. Ao tempo em que “como cidadão” não vê “com bons olhos” que o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, saia para trabalhar como gerente de um hotel em Brasília. Dirceu está preso na Papuda há 15 dias, em regime fechado, sendo que sua punição é em regime semiaberto, conforme determinaram os juízes do Supremo.
Enquanto isso, o delator do “mensalão”, que ainda está para ser comprovado que existiu, está solto e a descansar em sua casa, porque foi vítima de câncer, sendo que o juiz Joaquim Babosa, presidente do STF, determinou que ele realizasse exames, a fim de se verificar se o ex-deputado está apto para também ser preso, pois até o momento apenas os políticos ligados ao PT estão a cumprir suas penas.
Surreal, não? Para o Judiciário deste País, ao que parece, cadeia é para pobre, preto e puta. Neste ano, acrescentou-se mais um “P” aos que são detidos e presos pelos servidores de altas patentes da Casa Grande: os petistas. É insidiosa e infame a campanha de desconstrução e criminalização do PT, bem como de seus filiados e militantes.
Os bárbaros, endinheirados e ainda controladores de instituições importantes do estado brasileiro, não aceitam de forma alguma que um novo grupo político assuma as rédeas do País e efetive seu programa de governo. Para os bárbaros da Casa Grande, incluindo-se os magnatas bilionários da imprensa, ficar fora do poder por apenas 11 anos é como se fosse uma eternidade, afinal privilégios e favorecimentos é a essência do poder medieval de uma “elite” que escravizou seres humanos por cerca de 400 anos.
Patrimonialistas e herdeiros legítimos da escravidão, os bárbaros confundem o público com o privado e quando percebem que o acesso aos favores originários do poder público minguaram, revoltam-se e passam, por intermédio da imprensa de negócios privados a fazer campanhas intermitentes contra aqueles que estão no poder, no caso os políticos petistas, que não representam o establishment tradicional, o que controla os meios de produção, os recursos naturais, o sistema bancário e a indústria de armas.
O juiz e político sem votos Marco Aurélio de Mello é de direita. Defende os interesses do sistema de capitais e o preza. Sua atuação no Supremo é polêmica, a exemplo de sua pressão, antiética, contra o ministro Ricardo Lewandowsk quando ele percebeu que o relator do “mensalão” seria favorável aos embargos infringentes, instrumento jurídico que os réus recorrem para revisar suas penas e contestar decisões de juízes consideradas pelos acusados como injustas.
Os embargos são um mecanismo legal e ferramenta do Direito em pleno estado democrático de direito. Contudo, ao que parece, somente o juiz e não o imperador Marco Aurélio não sabia disso. Midiático e vaidoso, convocou a imprensa alienígena e conservadora para dar declarações e mais uma vez em sua vida de magistrado repercutiu confusão e dúvidas ao povo brasileiro por intermédio das mídias de mercado.
Zé Dirceu está preso e Roberto Jefferson está solto. José Genoíno virou motivo de chacota e de maledicências por ter problemas no coração e foi exposto e ridicularizado mesmo a ter problemas de saúde. Jefferson, o delator que deu um tiro que saiu pela culatra, está a ser preservado, respeitado pela imprensa burguesa de passado e presente golpistas.
Chegou-se a um ponto de o delator pedir desculpas por não poder atender a imprensa corporativa, por motivos alheios à sua vontade. Tudo compreensível, afinal Roberto Jefferson não é do PT e nem os envolvidos com o mensalão tucano e com a compra de votos da reeleição de FHC – o Neoliberal I, aquele que quebrou o Brasil três vezes porque foi ao FMI três vezes, de joelhos e com o pires nas mãos.
Enquanto isso as Organizações(?) Globo faz sua parte para impedir que José Dirceu tenha o direito de trabalhar. Para essa infernal organização(?), que luta contra a emancipação do povo brasileiro e a independência e autonomia do Brasil desde os primórdios do século XX, o petista histórico, além de ser humilhado, tem de ser impedido de exercer seus direitos civis garantidos pela Constituição mesmo a ser um prisioneiro. A pena imputada a Dirceu é de regime semiaberto, e, portanto, ele tem o direito de trabalhar enquanto estiver preso.
E o que a Globo e seus congêneres fazem? Começam a veicular e publicar informações de que o Hotel Saint Peter pertenceria a um laranja e coisa e tal. E continua com um lenga-lenga maledicente, perverso e cafajeste ao lançar suspeita de que Dirceu está por trás da venda do hotel pelo falecido empresário Sérgio Naya. Trata-se de uma perseguição política sem fim e um linchamento moral a um político sem igual na recente história do Brasil.
A ordem nas redações da imprensa hegemônica e venal é dificultar ao máximo a vida de quem já foi humilhado, linchado e preso. Essa gente de direita e alma udenista não tem jeito, e é por isso que eu defendo a urgente efetivação de um marco regulatório para as mídias, a exemplo do que existe na Argentina, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Insisto: quem dá comida de vara curta ao tigre vai ficar sem o braço, e o Governo trabalhista de Dilma Rousseff tem de retirar da gaveta empoeirada do Ministério das Comunicações o projeto democrático que dispõe sobre o marco regulatório para os meios de comunicação elaborado pelo ex-ministro Franklin Martins e sua equipe. Ponto!
Marco Aurélio de Mello continua a trilhar seus caminhos políticos à direita do espectro ideológico. Questionado pela imprensa burguesa sobre o porquê de o juiz Joaquim Barbosa aplicar as penas de maneira diferente aos condenados na AP 470 e somente aos petistas, o magistrado respondeu: “Os atos são praticados de forma homeopática” – justificou.
Contudo, Marco Aurélio, o juiz e não o imperador romano, libertou o banqueiro Salvatore Cacciola, dono do Banco Marka, que cometeu crimes contra o sistema financeiro, juntamente com funcionários do Banco Central, após ser socorrido em 1999, durante o Governo do neoliberal FHC.
Cacciola fugiu para a Itália e foi extraditado de Mônaco para o Brasil em 2006, pegou quatro anos de cadeia e hoje caminha livre, leve e solto por onde quiser e lhe convier. Outro criminoso que Marco Aurélio soltou foi o assassino da missionária estadunidense Dorothy Stang, que deveria estar preso por 30 anos. Regivaldo Pereira Galvão, que atende pelo sugestivo apelido de “Taradão”, fuzilou a religiosa por causa de conflitos de terra e indígenas, em um crime de repercussão mundial.
O juiz Marco Aurélio de Mello não se fez de rogado e o soltou. O motivo para a soltura é que os recursos de apelação do criminoso já condenado não foram totalmente esgotados. Assim que funciona o Judiciário da burguesia - da direita brasileira. É o que podemos chamar de Justiça de um peso e duas medidas. O Judiciário brasileiro tem de passar por uma profunda reforma. É o Poder da República mais fechado, o mais afeito a mordomias, o que mais reagiu à Lei do Nepotismo e o que tem o mais enraizado sentimento de classe.
Quanto a isso tudo, certamente que Marco Aurélio de Mello evita doses homeopáticas. Se existe uma frase ou pensamento que serve para o poderoso mandatário do STF é a que o seu xará Marco Aurélio – o imperador – afirmou: “Logo tu esquecerás; logo te esquecerão!” Marco Aurélio julga como Sir. É isso aí.
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