Foto: Exclusiva: Inédita: Mostra Targino Gondim e O Presidente da ATAVASF: Carlão Sampaio |
por Jamile Amine
Foto: Cláudia Cardozo / Bahia Notícias
Com 20 anos de carreira, o forrozeiro baiano Targino Gondim celebra a data com muita produção, concentrada em três novos discos. O primeiro foi o “Canções Divinas”, um CD com temática religiosa, lançado no fim de 2014, pela proximidade com o Natal. Recentemente, Gondim lançou o “É Festa”, que além de conter canções do ritmo que o consagrou, traz também referências de outros estilos musicais, a exemplo do reggae e axé, através de canções de artistas como Gilberto Gil, Lazzo Matumbi e Carlinhos Brown. O terceiro álbum sairá em julho, durante o Festival Internacional da Sanfona e será um disco instrumental, com participações de sanfoneiros renomados como Oswaldinho do Acordeom, Renato Borghetti, Beto Ortiz, Cezinha, Quinteto Sanfônico da Bahia e o argentino Héctor del Curto. Para falar sobre estas duas décadas de carreira, o Bahia Notícias conversou com Targino Gondim, que falou ainda sobre suas referências musicais ecléticas, a relação com outros músicos, além de seus novos projetos.
Você celebra 20 anos de carreira e, para isso, gravou o disco “É Festa”, que além do forró, também flerta com outros ritmos. Porque você decidiu neste momento tocar outros estilos?
Na verdade, eu já faço isso tem um tempinho. Têm algumas músicas que despertam muito a minha atenção e que eu gosto. É o caso de “No woman no cry”, “Esotérico” e “A novidade”. São músicas que eu já gosto de cantar assim em casa. Mas eu sei que a minha prioridade, claro que é o forró, até porque a gente tem extenso repertório de música de nomes como Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Dominguinhos, Elba... São muitas músicas, então, nesse vai e vem de escolha de repertório, eu resolvi manter nesse CD as músicas que me acompanharam, de minha autoria, durante esses 20 anos de carreira, e tentei trazer também para esse meu registro, ao vivo, algumas coisas que eu gostasse, mas q também ajudassem a quebrar um pouco essa coisa da sanfona, do forró ter que ser uma coisa antiga, engessada. É tanto que no meu CD e nos meus shows trago também uma forma, uma composição musical um pouco mais ousada, com sanfona, guitarra mais presente. Deixo bem à vontade o meu guitarrista. E a gente tem também umas nuances um pouco mais à frente do que quem se diz forrozeiro costuma ficar fazendo. Tento mostrar que o forró é atual também, não ficou no passado. A gente não está resgatando, nem vivendo do passado, a gente está produzindo, tanto compondo músicas novas, como nas releituras que a gente faz de músicas já antigas.
Em geral artistas de um ritmo tem uma aproximação maior com nomes desse mesmo estilo, mas você parece transitar entre outros grupos, tendo convidado nomes como Leo Macedo e Tatau para participar de trabalhos com você, como se dá essa aproximação?
Isso vai muito por conta da música. Ela por si aproxima os artistas. Então quando eu surgi no cenário nacional eu já tinha amizade com muitos artistas, mas essa coisa aumentou muito mais. Porque “Esperando na Janela” ultrapassou os limites do gênero forró, ganhamos Grammy Latino, então é uma música que foi muito tocada. Quem não gravou, cantou essa música, em algum momento da carreira, no Brasil. Então isso fez com que as pessoas se aproximassem do meu trabalho, conhecessem essa história e tivessem essa afinidade com meu trabalho e comigo. Ao longo desses anos a gente teve muitos encontros, Tatau eu encontrei várias vezes, cantei com ele no carnaval. Então, assim, a gente sempre manteve esses encontros. Luis Caldas agora fiz três músicas com ele, a gente iniciou uma parceria de composição, e das três eu canto duas, num CD que ele lança até o São João. A Ivete que é de Juazeiro. Claudia Leitte eu já participei de CD dela ainda no Babado Novo, tocando sanfona. Margareth Menezes já participei de vários shows e ela já cantou em CD meu também. Elba Ramalho. Carlinhos Brown, já participei dos ensaios da Timbalada. Durval Lelys cantou comigo num CD meu, gravei no estúdio dele, participei de show, ajudei na composição de um disco que ainda não saiu, que não sei se está engavetado. Mas, assim, eu transito bem, a gente tem essa liberdade. Às vezes a gente está num encontro inusitado, fala do lançamento de um trabalho e aí surge o interesse. Fico feliz, somos amigos, e eles gostam do meu trabalho e do que faço. Isso que me deixa supersatisfeito, de olhar esses 20 anos e fazer mapeagem do que surgiu e aconteceu, e o que mais carrego comigo são justamente essas coisas boas. O relacionamento com os artistas e com o público, com as pessoas que gostam do meu trabalho.
Cantor tem boa relação com artistas de diversos gêneros musicais / Foto: Cláudia Cardozo - Bahia Notícias
É difícil fazer algo novo depois de 20 anos de carreira? Qualquer forrozeiro é inspirado por grandes nomes como Luiz Gonzaga e Dominguinhos, é ainda mais complicado se renovar, mirando estes ícones?
Não, não é difícil não. É sempre com cautela, assim, porque Luiz Gonzaga inovou totalmente o que existia na história da música brasileira. Ele chegou com uma forma de cantar e de se expressar diferente do que tinha na época, na década de 40 e 50. Dominguinhos veio também com uma forma diferente, mudou totalmente a forma que a gente enxergava a sanfona e o acordeom. Por exemplo, quando Dominguinhos surgiu no cenário fonográfico e musical, ele buscou, pesquisou, bebeu na fonte de outros gêneros musicais, como jazz, e trouxe tudo aquilo que era tocado para o forró. Então, hoje a forma de tocar sanfona é muito diferente da época que Luiz Gonzaga começou. Daí você tira, a gente tenta, de tudo que eles trouxeram e fizeram, trazer para a época de agora. E tenta essa coisa, essa mistura, essa mescla. É difícil fazer o que eles fizeram, mas a gente vai fazendo. Claro que no meu caso eu faço com respeito e dando limite também. Porque eu, com esses 20 anos, hoje sou tido como um representante do forró, então não posso, logo eu, ousar demais e desfigurar, descaracterizar meu trabalho.
E qual é o limite, você pode citar exemplos?
Essa pergunta é difícil (risos). O limite talvez seja na forma de interpretar. Na minha canção, na minha voz, na sanfona. Acho também que o limite seria uma coisa bem particular minha. Tipo, só vou até onde me agrada, até onde eu acho que é legal.
E o que não te agrada?
Músicas ruins, de mau gosto, com letras depreciativas. Isso aí não me agrada de forma nenhuma.
Há alguns meses entrevistei outro forrozeiro baiano, Carlos Villela, e ele falava da coisa da poesia. Que forró não era forró sem respeitar essa coisa da letra, da poesia, e criticava muito algumas canções de duplo sentido, que depreciavam a mulher. Você também segue essa linha de pensamento?
Tem o duplo sentido com humor, que até que se transforma em uma coisa um pouco gostosa, uma brincadeira. Mas tem aquela história da depreciação que é horrível, direta. Então, isso aí sim, eu sou totalmente contra. Agora, eu escuto tudo, Skank, Cidade Negra, Tropicália, tudo isso aí eu gosto muito e escuto.
Geralmente, para celebrar tantos anos de carreira, outros artistas gravam um show, CD, DVD ao vivo. Você escolheu gravar no estúdio, por quê?
Não sei, na verdade esse meu ano de comemoração eu preparei três trabalhos. Um eu tive que lançar um pouco antes, em dezembro, por causa da época do Natal. É o “Canções Divinas”, ligado à oração, agradecimento, pedido, então esse é um dos trabalhos. O outro é esse meu gravado em estúdio. Eu quis registrar o show que já acontecia em 2014, com todo esse repertório. Claro que eu dei uma arrumada, tirei alguma música, incluí alguma outra para poder relembrar as canções que me acompanharam ao longo dessa trajetória. E preferi gravar em estúdio porque era uma coisa mais tranquila. A gente entrou, resolveu as músicas que a gente já tocava, e deu alguma mexida, alguma alterada no tempo de cada música tocada. Foi 1, 2 3 e gravou. Depois, o trabalho maior que a gente teve em estúdio foi com edição e mixagem, mas o ato de gravar foi uma coisa bem mais rápida e mais tranquila. E assim, de repente, no meio da gravação eu resolvia: “Não, vamos voltar aquela música, não vou fazer, vou fazer uma vez só, vou incluir uma outra”. Tanto que inclui uma música inédita, já próximo do fim das gravações. Eu decidi colocar “Deixa Amanhecer”, que é a única inédita nesse meu CD. E eu também não sou muito adepto à gravação de DVD. Eu mesmo não sou um bom espectador de DVDs. Não gosto, acho muito enfadonho, canso logo, seja qual artista for. Mesmo que eu goste, logo eu canso. Prefiro ouvir, que estar vendo aquelas imagens. Por mais que mude de figurino, tenham bailarinos, luz, tenha aquilo tudo, é cansativo. Eu acho que o CD embala mais, é mais dançante, você não precisa estar vendo, ficar estagnado ali em frente à tela. Então fica um CD mais para você dançar mesmo. E o outro CD meu, para comemorar esses anos de carreira, é o meu primeiro CD instrumental.
Com 20 anos de carreira, Targino Gondim tenta se reinventar / Foto: Cláudia Cardozo - Bahia Notícias
Fale um pouco mais deste terceiro disco, em que consiste?
É um registro do Festival Internacional da Sanfona. Surgiu dessa minha ideia de fazer um CD instrumental, com participações de acordeonistas que se apresentaram comigo no festival, como Oswaldinho do Acordeom, Renato Borghetti, Beto Ortiz, Cezinha, Quinteto Sanfônico da Bahia e o argentino Héctor del Curto. É um CD instrumental da sanfona. Eu toco bossa nova, chorinho, tango, valsa. É uma mistura de ritmos, mostrando, na verdade, a sanfona. O nome desse disco é “Chorando Mais Eu”, e ele vai ser lançado depois do São João, junto com o Festival da Sanfona, que vou realizar mais uma vez nesse ano. O lançamento vai ser no festival.
O que é o Festival Internacional da Sanfona e como ele foi criado?
É o maior evento que acontece da sanfona no Brasil. Acontecem vários, mas esse é o maior. A gente está na terceira edição, agora em julho, em Juazeiro. É um festival gratuito, temos workshops, oficinas de sanfona, teremos exposição de sanfonas e concurso de sanfoneiros. O vencedor ganha uma sanfona profissional, que é um instrumento caro, que custa de R$ 20 mil para cima. E teremos shows eruditos e populares, com representantes de todas as regiões do Brasil, para tocar no festival e mostrar como a sanfona é tocada em cada uma dessas regiões. Traremos também cinco ou seis músicos internacionais de diversos continentes. A ideia do festival veio de Celso Carvalho, que já mexia com produção cultural em Salvador e foi morar em Juazeiro. A gente conversando teve a ideia de realizar o evento. Então eu comecei no primeiro festival, usando minha amizade e credencial para tornar real. Liguei para Dominguinhos, Oswaldinho, Renato Borghetti, Sivuca, que era vivo ainda na época que a gente estava começando a criar. Ele queria muito participar, mas já estava doente. A gente conseguiu a partir dessa história. E eu creio que na verdade no primeiro festival todos eles foram por minha causa. E ninguém esperava, eu já vislumbrava isso, que ia ser de sucesso, mas eu via divulgava, chamava imprensa e percebia que as pessoas achavam legal, mas ainda não entendiam e não estavam na mesma sintonia que eu. Elas não visualizavam o que eu enxergava. O festival aconteceu em 2009 e 2010. Infelizmente para fazer cultura a gente sempre tem esses empecilhos, então de 2010 para cá não conseguimos renovar com um patrocinador substancial. Agora a gente conseguiu com o BNDES, em edital, e temos alguns outros que a gente está negociando. A intenção é que esse festival aconteça por mais anos e que em breve a gente consiga sediar uma Copa do Mundo do Acordeom. Essa Copa já acontece em vários países, a gente já tem esse contato com a Associação dos Acordeonistas e pretende ver se é possível realizar aqui. Além disso, o festival nasceu em Juazeiro, mas quem sabe no futuro ele não possa virar um evento itinerante?
E para o São João, que está chegando, já tem agenda?
Em junho temos uma agenda intensa. Só entre 20 e 29, por exemplo, temos apresentações em Euclides da Cunha; Senhor do Bonfim; Jaquarari; Vitória de Conquista; Itapetinga; São Sebastião do Passe; São Gonçalo dos Campos; Tanque Novo; Petrolina (PE); Campina Grande (PB); Caém (BA) e Andorinha (BA).
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